Do campo ao digital: entendendo as dores na relação entre agroindústrias e apicultores

As empresas agroindustriais, que geralmente são proprietárias de áreas com vegetação para pasto apícola, desejam conhecer os apicultores em suas propriedades. Os apicultores, por sua vez, querem ter acesso ao pasto apícola de qualidade. Confira a jornada da GeoApis para entender como promover uma relação mais produtiva entre apicultura e agricultura.

O trabalho de campo sempre foi e será desafiador porque lidamos a todo instante com o biológico e social, e em ambas as áreas as relações são orgânicas e em constante evolução. No que tange a relação agricultura e apicultura, iniciei a caminhada em campo direto com apicultores e suas associações em 2014, descobrindo e aprendendo muito sobre esse ecossistema. Como as relações da produção agrícola e de abelhas se entrelaçam, desde a parte técnica até as relações humanas.

A GeoApis iniciou as atividades em 2014 quando a BASF transferiu para a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) seu projeto de campo focado nos apicultores do Estado de São Paulo para ganhar visibilidade e atuação setorial.

Ao longo destes anos, em parceria com o Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA) e a MD Educação Ambiental, o projeto investiu no desenvolvimento apícola, realizou o georreferenciamento de quase 10 mil colmeias, envolveu mais de 40 entidades apícolas e 200 apicultores nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

Em 2019, a A.B.E.L.H.A. iniciou um processo de transição da expertise do projeto para a CONVERGE CONSULTORIA AGRONÔMICA, uma empresa privada, para proporcionar crescimento de mercado e sustentabilidade.

As cadeias agrícola e apícola possuem focos de trabalho distintos, mas não divergente, pois enquanto a primeira atua na produção de alimentos, fibras, energia, etc., a outra é focada na produção de mel e outros produtos das abelhas.

De um lado temos as empresas agroindústrias, que geralmente são as detentoras de pasto apícola (locais onde as abelhas buscam recursos florais, que pode ser fragmentos florestais ou a área de produção), mas desconhecem os apicultores, têm receio do ataque das abelhas em funcionários e instalações e têm medo de roubos e furtos em suas propriedades. Do outro lado estão os apicultores, que precisam do acesso ao pasto apícola para obterem alta produção de mel. Também não querem que suas abelhas morram pelo uso indevido dos defensivos agrícolas.

O resultado da falta de comunicação e conhecimento de ambas as partes é o conflito no campo, deturpando a imagem da cadeia agrícola, prejudicando o meio ambiente e podendo ocasionar a queda na riqueza de alimentos devido à baixa polinização, justificado pela baixa adesão dos produtores rurais em projetos para este fim, e muitas vezes a mortalidade das abelhas. Neste cenário, os dois atores ficam em dúvida sobre a escolha da melhor metodologia para resolver o conflito. Muitas vezes o caminho é judicial, o que não mitiga os danos citados acima, e acarreta em indenizações nas cifras de milhões às empresas do Agro.

O maior desejo das empresas agroindustriais é conhecer os apicultores em suas áreas, não ter acidentes com ataque das abelhas, roubo nas propriedades e não sofrer sanções indevidas por desconhecimento da presença de abelhas em suas propriedades. Os apicultores, por sua vez, querem ter acesso ao pasto apícola de qualidade, aumentar a produção de mel e não ter abelhas mortas pelo uso indevido de defensivos agrícolas.

Devido às intensas visitas e conversas que a GeoApis realizou com ambas as partes, conseguimos entender os reais motivos da falta de comunicação entre eles. Entendemos que é necessário um trabalho inicial e profundo de mapeamento dos atores deste ecossistema e que haja a intermediação desta comunicação por um terceiro que entenda as dores e consiga falar a linguagem de ambas as partes.

Elaine Basso – Engenheira Agrônoma, CEO e Founder da CONVERGE

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